Riscos físicos e psicológicos ainda são muito presentes no cotidiano do trabalhador da área da saúde

Mesmo com 12 anos aprovação da NR-32, ainda há muito a ser feito para garantir um ambiente de trabalho seguro e sem riscos

out 16, 2017

São Paulo, 16 de outubro de 2017 - Dados do último Anuário Estatístico da Previdência Social mostram que setor de saúde concentrou 14,49% dos cerca de 612,6 mil acidentes do trabalho registrados em 2015: foram 69.245 casos - número que não tem melhorado em relação aos anos anteriores. Ou seja: mesmo com 12 anos da aprovação da NR-32 de Segurança do Trabalho nos estabelecimentos de Saúde, ainda há muito o que ser feito para melhorar não só as estatísticas, mas também a qualidade do ambiente de trabalho.

Já o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, lançado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) traz dados tão mais alarmantes: entre 2012 e 2016, os trabalhadores brasileiros perderam mais de 250 milhões de dias de trabalho devido a acidentes e doenças ocupacionais, enquanto cerca de 20 bilhões de reais foram gastos com benefícios acidentários.

Criada para constituir diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção específicas aos trabalhadores do setor, a NR-32 de Segurança de Trabalho nos Estabelecimentos de Saúde existe desde 2005. Porém, a fiscalização é falha, e o cenário atual no Brasil é de profissionais mal remunerados, insatisfeitos, estressados e com baixa qualidade de vida, conforme apontam os especialistas da área.

A BD, empresa global de tecnologia médica, reconhece não só a importância de cumprir com a NR32, disponibilizando materiais perfurocortantes com dispositivos de segurança para evitar contaminações por material biológico, mas é também pioneira em abrir espaço para a discussão das necessidades mais urgentes em cuidados de saúde, tanto dos profissionais, quanto dos pacientes.  "A segurança dos profissionais, a preocupação com o paciente e a eficiência dos serviços médicos recebem cada vez mais a atenção dos administradores de saúde e são fundamentais para o bom funcionamento do sistema", diz Augusto Geraldi, Gerente de Unidade de PS na BD.

Descarte errado

A falta de investimento na qualificação de profissionais, e em dispositivos de segurança mais avançados para uso em instituições de saúde tem gerado problemas também quando há o descarte incorreto de materiais perfurocortantes. "O descarte deste tipo de lixo feito de forma errada, não só compromete a saúde deste trabalhador, mas também de toda uma cadeia de outros profissionais, como da equipe de limpeza, do lixeiro, entre outros", alerta Alcyone. "Isso sem falar de serviços como home care e cuidadores, que também cometem este tipo de falha. Mas, isto é uma outra discussão", finaliza.   

Um caso recente, citado por Fernanda Moura, enfermeira associada à Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, que trabalha no Hospital do Trabalhador, é o de uma criança de quatro anos que foi perfurada por uma agulha. "Os pais são catadores de lixo e a criança estava junto deles, brincando junto ao local de descarte de material reciclável e foi perfurada quando mexeu num saco de lixo. Por esta razão que é muito importante também investir em dispositivos com o objetivo de proteger quem está exposto a este tipo de perigo", comenta.

Mercado de trabalho

Outra vertente discutida foi o mercado de trabalho da área de saúde, em que se constatou que os profissionais saem das faculdades despreparados: ainda seguem um modelo de ensino assistencial de 50 anos, não houve nenhuma mudança no currículo. "Muitas vezes precisam ser reformados para começarem a trabalhar", declara Mara.  'Mesmo com a tecnologia e os avanços da medicina, não houve o mesmo na formação de profissionais da área, ou seja, está muito aquém da necessidade específica deste mercado", finaliza.

Boas práticas

A garantia de um processo eficaz de melhorias no ambiente de trabalho é proveniente, basicamente, do apoio da gestão. A instituição que tem uma política favorável a comunicação de eventos (notificações de casos com colaboradores e com os pacientes), há uma maior aderência dos funcionários. "Ele não se sente punido, mas ao contrário, é incentivado a comunicar e sabe que será bem acolhido", enfatiza Mara.

Dentre os exemplos de cases bem-sucedidos de adoção de medidas de segurança foi citado por Sirleide Lira, coordenadora de enfermagem no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), onde implementou o gerenciamento de riscos de acidentes perfurocortantes. "Partimos de uma situação, no ano de 2010, em que tínhamos um número considerável de acidentes com perfurocortantes no momento da coleta de exames laboratoriais. Começamos, então, a buscar algumas soluções para este problema e desenvolvemos um plano de ação para revertermos este quadro". Segundo a coordenadora, desenvolveu-se uma metodologia que foi dividida em quatro fases, que incluiu conscientização, reconhecimento, treinamento e validação. "Hoje, após este processo e a adoção de scalp retrátil, zeramos o número deste tipo de acidentes", explica.

Já Patrícia Chaves, gerente de segurança do trabalho e meio ambiente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein também dividiu a experiência para garantir segurança não só no ambiente de trabalho, mas também do paciente. "Dentre as várias ações que realizamos, neste momento está em implantação uma ferramenta de observação comportamental, com treinamento de todos os líderes, cuja metodologia estimula o colaborador a identificar e mitigar o risco imediatamente. ", comenta. "Temos envolvimento da gestão em todas as ações, e que são revistas anualmente pela alta direção. E vimos que estamos no caminho certo, pois reduzimos drasticamente, a cada ano, as taxas de acidente biológico com afastamento. ", finaliza a gerente.  

E a legislação?

Já do ponto de vista legal, o procurador do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Ronaldo Lira, destaca que o setor de saúde é um dos mais complexos que existe e o Brasil tem hoje o chamado "segurança de papel", ou seja, programas de prevenção que não saem da gaveta, não são implementados por diversos motivos, seja pela competitividade, pelo excesso de trabalho, etc. "Trabalhar com a prevenção, frente aos altos gastos que se tem com multas, pensões e indenizações ainda é o melhor caminho para garantir um ambiente de trabalho seguro. É mais barato, saudável e humano. Precisamos efetivar a humanização", enfatiza o procurador. 

Ronaldo exemplifica uma situação comum em instituições de saúde que é bem conhecida: durante o inverno é sabido que aumentará o número de pacientes nos prontos atendimentos, mas o número de trabalhadores será o mesmo. "Como fica o trabalhador, que tem que lidar com um número de pacientes três vezes maior, e é uma pressão muito alta para ele aguentar", comenta. O procurador também ressalta que o profissional não é contratado para sofrer um acidente, mas sim para trabalhar e ser remunerado, com direito constitucional garantido. " É crescente o número de ações de doenças e acidentes de trabalho, e os valores das indenizações também, até para ter efeito pedagógico nisso, pois o Judiciário não quer que seja barato para não estimular a falta de prevenção no ambiente de trabalho", finaliza.

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